segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Pequenas Observações - Parte I

Conversando com o porteiro do meu prédio ele vira-se pra mim e diz:

-Tens um filho pequeno, não é isso?

-Isso. E você, tem filhos?

-Tenho um casal.


Paro e penso: se são irmãos, como podem ser um casal?

dúvidas, dúvidas...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

OBA NAO VOU Sao Paulo - 3 de Agosto

O EDIFÍCIO YACOUBIAN, filme egípcio. Filmes iranianos são sinônimos de intragável. O Egito é ali do lado. Faças as contas.

O DONO DO MAR, filme baseado em obra de José Sarney. Esse destalentoso já foi Presidente da República e é imortal da Academia Brasileira de Letras. Já está bom até demais. Meu dinheirinho do cinema não leva.

RAVE CATÓLICA, no Moinho Eventos, Mocca. Aproveitando o trocadilho, é o milagre da bizarrice: Djs do Grupo Eletrocristo e CristoDrinks na festa idealizada pelos jovens da renovação carismática católica. Tem até pastilha derretendo em baixo da língua. A hóstia, companheiros. A hóstia.

MISS SAIGON, no Teatro Abril. Lá fora o musical já é um pé na bolas. Aqui, picareta e falsário. Coisa para os bregas pobres que, diferente dos bregas ricos, não conseguem ver na Broadway. E a platéia, tão picareta e falsária, é outro espetáculo Oba Não Vou à parte.

CIA BORELLI DE DANÇA – “O PROCESSO”, na Galeria Olido. A Companhia faz uma montagem da obra de Franz Kafka. Fracamente: se eu quiser ver barata dançando, é só jogar Baygon na pobrezinha.

GILBERT, no Tom Jazz. Um egípcio naturalizado brasileiro mostra repertório romântico, cantando em francês, hebraico, ìdiche e até árabe. Deusmelivreeguarde…

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Basta! (agora também digital)

Chega destas malditas correntes. Chega de gente que eu não conheço dizendo que eu vou ficar broxa em sete dias se não repassar a mensagem para cinqüenta pessoas. Não me importo, não vou mais me abalar em saber que alguma criancinha está com uma doença raríssima e vai morrer em seis meses se não juntar cem mil dólares. Na verdade talvez eu me importe, mas na vida real, não mais na minha caixa de e-mails. Não me interessa se estão fazendo lobotomias em coalas da Nova Zelândia para produzir a essência de algum perfume novo. Um foda-se hiperbólico para o novo golpe que está sendo aplicado pelo celular, vão pro inferno com a falácia da banheira cheia de gelo e, definitivamente, não me venham mais com a história da leptospirose na latinha. Eu realmente não posso fazer nada se a Nike usa crianças desnutridas na Índia para fabricar seus tênis, a um dólar por dia. E também não adianta vir dizer que o remédio tal está matando gente e já foi até proibido em Connecticut. Nunca, sob hipótese alguma, eu vou deixar de tomar o Imosec quando houver necessidade. Não, eu não sei onde está o seu primo que tem problemas mentais e foi visto pela última vez na Rodoviária de Ribeirão Preto trajando calça jeans, blusa branca e tênis. Também não vi seu labrador, seu hamster ou sua calopsita.

Não contem comigo para deixar de comer no Mcdonalds no dia tal, mês tal. Nem para evitar fazer ligações por determinada companhia telefônica em outro dia qualquer. Eu posso até imaginar os executivos dessas empresas babando de tanto rir, diabólica e freneticamente, cada vez que recebem uma bobagem desse tipo em sua caixa de correios.

Parem com o maldito reply all. Não dá pra entender o que passa pela cabeça de um sujeito que dispara uma resposta a dezenas de e-mails simplesmente para dizer “hahaha” ou “boa”. Se a vontade for incontrolável, ao menos tenha a decência de enviar apenas ao remetente.

Se algum dia na vida eu cometesse a sandice de espalhar uma corrente, seria para propor um abaixo-assinado que tivesse o objetivo de instituir a pena de morte para o criador do power point e dos arquivos pps.

Não é que eu tenha perdido a sensibilidade ou esteja fugindo de problemas. Acontece que só quero enfrentá-los na vida real. Ao ler meus e-mails, serei tão frio quanto o carrasco que empurra a própria mãe no cadafalso. Se você é meu amigo e está com problemas, me ligue, farei de tudo para ajudá-lo. Se você não tem meu telefone, provavelmente não devemos ser tão amigos assim, e por isso eu não sou mesmo a pessoa mais indicada. Boa Sorte.

Danilo Maia

RESTAURANTES A QUILO

Outro dia passei à frente de uma senhora na fila do restaurante a quilo. Ela reclamou. Eu disse que não gostava de salada, mas não adiantou de muito. Ela estava mais preocupada com suas etiquetas do que com meu paladar. A verdade é que ela empacou nessa sessão e, já que não sou muito assíduo às plantas, pulei direto para meu arroz com feijão.

Eu, que já não gostava de restaurantes a quilo por um motivo que digo já, epifanei mais um na irritação da senhora: a fila. A lenta, impessoal, gordurosa e à vapor fila do buffet. Uma engrenagem de bandejas se entuxando umas às outras. A linha de produção da bóia de fábrica. Sua única opção é ir para frente. Voltar para uma cebolinha em cima do bife é impossível. É cara feia na certa, uma pressão danada. Dizem por aí que toda refeição é sagrada. Mas não esqueçam, irmãos: a tranquilidade deve começar na hora de fazer o prato.

E fazer o prato é o outro motivo pelo qual evito restaurantes a quilo. São tantas e tantas opções que fica difícil manter a coerência. Tem de tudo. E tudo, mesmo espirrado e remexido, lindo e apetitoso. A gula incha primeiro que a pança. É por isso que eu sempre faço um reconhecimento pelo buffet antes de fazer o prato. Desenho todo o plano, vejo o que vai bem com o quê, vou e volto inúmeras vezes para eliminar as dúvidas e as surpresas. Podem me achar maluco ou inspetor da vigilância sanitária. Mas e daí? Pelo menos não vou comer melão, feijoada, tomatinho cereja e sashimi ao molho curry.


João Vereza
Joao_vereza@yrbrasil.com.br